Profissionais da saúde e o peso invisível da capa

É inegável que a epidemia mundial do Coronavírus (COVID-19) deixou evidente o tamanho de nossa vulnerabilidade humana.


Diante deste cenário, algumas categorias profissionais se destacam por estar na linha de frente, como é o caso dos profissionais da saúde. E todo esse esforço é admirável! 


Entretanto, culturalmente temos a prática de classificar esses profissionais, especialmente em tempos de crise, como “heróis”. Os heróis, normalmente, são pessoas desprovidas de vulnerabilidades humanas: não sentem medo, nem dor, não precisam de ajuda, eles são fortes o tempo todo. E, no final, sempre estão ilesos e felizes. Os heróis não morrem, não surtam e não adoecem. Os heróis são uma projeção ou representação do que todos nós gostaríamos de ser um dia: invencíveis. Mas (infelizmente) os heróis não existem na vida real, apenas na ficção.


O que existe na vida real são humanos com grande disposição, disponibilidade e altruísmo empenhados em cumprir cada palavra de seu juramento profissional.


Quando esperamos que esses profissionais sejam heróis, deixamos escapar uma expectativa que pode ser muito adoecedora para eles: a ideia de que eles não podem sentir medo, demonstrar tristeza ou cansaço, não podem errar, adoecer, desistir ou fraquejar. 


Tanto na rotina normal, quanto agora num cenário de pandemia, eles lidam com sobrecarga de trabalho, com duras jornadas, privação de sono, nível elevado de estresse pela complexidade das atividades e pela presença constante do risco de contaminação.


Todos esses fatores, somados à ideia de que não podem admitir vulnerabilidade ou pedir ajuda, podem predispor à longo prazo ao completo esgotamento. Ao final da pandemia, muitos deles terão outro inimigo para enfrentar: o adoecimento físico e mental, que pode trazer consequências graves e de longa duração.


Por isso, achatar a curva de disseminação da doença através do isolamento social também é uma forma de zelar por nossos profissionais de saúde, impedindo que os serviços se tornem ainda mais caóticos.


Mas além disso, precisamos verdadeiramente humanizar essas profissões desde a graduação e tirar deles a culpa de se sentirem frágeis ou vulneráveis.


A você, profissional da saúde, quero dizer: está tudo bem ter medo. Você também tem esse direito. PEÇA AJUDA!


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